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Página anteriorNesta minha estreia escrevendo sobre vinhos, decidi não abordar uma uva ou vinho específicos, mas sim falar do ritual do vinho e das emoções/sensações que este néctar dos deuses nos causa quando temos a oportunidade de degustá-lo.
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Para os povos mediterrâneos, o vinho, assim como o azeite, sempre representou status, enquanto a cerveja e a banha animal simbolizavam a barbárie.
Existe uma expressão em latim que diz muito sobre a relação homem-vinho: In vino veritas. Traduzindo, “no vinho está a verdade”. Em meio a algumas polêmicas em torno de quem criou esta expressão, se gregos ou romanos, vou preferir os últimos, uma vez que minha formação foi na Itália e serei explicitamente parcial.
E por que a verdade está no vinho?
Alguns povos antigos utilizavam o vinho para extrair segredos de inimigos e falsos amigos. Com alguns cálices oferecidos à vítima, conseguia-se obter segredos (verdades) que nem mesmo o mais cruel torturador seria capaz.
E quem nunca se pegou entregando algum segredo ao final da sobremesa com algumas garrafas de vinho e amigos ao redor? O vinho remete o homem à inocência infantil e sua sinceridade que um dia todos vivemos. Por outro lado, nos leva a experiências que exigem maturidade sensorial.
Nos dias de hoje, apreciamos uma refeição combinada com vinhos, iniciando o ritual com a apresentação e abertura da garrafa. Através da visão, observamos cores e nuances do belo líquido que gira em nossas taças. Seguindo a degustação, passamos ao olfato e paladar. Viajamos em nossa memória tentando encontrar alguma lembrança palato-olfativa de frutos, flores ou especiarias que possam estar presentes no vinho que estamos degustando. Ficamos entusiasmados quando percebemos aromas e sabores sugeridos por um entendedor e, por fim, maravilhados quando vinho e comida casam à perfeição.
Aqui vai uma dica para o leitor
Encontrar aromas e sabores em um vinho não depende unicamente de beber com paciência e habitualidade.
Procure frequentar feiras livres, mercados, floriculturas e empórios de especiarias para sentir os aromas e experimentar. Como perceber notas de anis ou pimenta em um cálice de vinho tinto se nunca paramos para efetivamente sentir estes perfumes originais? Como identificar um toque de pêssego ou damasco em um bom vinho branco se nunca apreciamos verdadeiramente estes frutos?
Com isto, grande parte dos mistérios do vinho estará ao alcance de suas mãos, ou melhor, de seus sentidos.
Mas cuidado na dose, porque in vino veritas…