Notícias
Página anteriorEntrevista – Jorge Lucki
O paulistano Jorge Lucki, 61, abandonou a carreira de engenheiro civil para viver do vinho. Há pouco mais de uma década, ele, que é considerado um dos maiores especialistas no assunto, passou a se dedicar às tarefas de consultor, crítico e colunista do jornal Valor Econômico e da revista Prazeres da Mesa. É ainda um dos colaboradores do guia Descorchados, tido como a mais importante publicação sobre vinhos da América do Sul. Após palestra na Grand Cru, nessa quarta-feira, 25, quando esteve pela primeira vez em Natal, Lucki concedeu entrevista ao Portal Deguste. Confira:
Fotos: Canindé Soares/Deguste |
![]() |
|
Portal Deguste – Como avalia o recorte da palestra em Natal?
Jorge Lucki – Chile e Argentina têm uma motivação e todo mundo toma seus vinhos. Mas, a intenção não é promover apenas uma degustação. O que me interessa é difundir a cultura do vinho e, no caso desses países, detalhar a região de cada um.
Quando passou a se interessar por vinhos?
Comecei a beber qualquer coisa e não renego isso. Durante a faculdade, bebia o que estava disponível em termos de preço. Comecei a estudar, a aguçar minha curiosidade e a me questionar. Em 1975, comprei meus dois primeiros livros em francês. Era o livro de um lado e o dicionário de outro. Em 1978, já achava que podia me aventurar e viajei à França, onde fiz alguns cursos. Havia uma academia de vinhos em Paris. A partir da década de 1980, passei a visitar as regiões vinícolas e não parei mais.
O senhor tem ideia de quantas vinícolas já conheceu?
Conheci quase todas.
Existe ainda alguma que deseja visitar?
Sim, algumas na África do Sul.
O senhor costuma ir a convite dessas vinícolas?
Não aceito convites. Pago minhas viagens, a não ser que seja algo institucional. Isso faço por questão de credibilidade e imparcialidade, já que também sou jornalista.
Que análise faz dos vinhos brasileiros?
Acho um erro comparar vinhos nacionais com estrangeiros. Os do Brasil deram um salto em qualidade nos últimos 10 anos e essa evolução é louvável. O país tem condições climáticas bem diferentes e obstáculos que fazem do nosso vinho um produto diferente. Mas, o que você deve apreciar é a diferença. Saber apreciar no momento certo, dentro do contexto que é o vinho nacional.
![]() |
Jorge Lucki conversou com a editora do portal, Adriana Amorim |
O senhor teria um rótulo preferido?
Não. A grande magia no mundo do vinho está na diversidade. Não consigo tomar o mesmo vinho dois dias seguidos.
Quantas garrafas, em média, o senhor possui?
Tenho três mil garrafas que venho adquirindo ao longo dos anos. Tenho garrafas que comprei em 1980 e costumo adquirir sempre três unidades, mas não é uma regra.
Como foi parar suas atividades como engenheiro para se dedicar ao vinho?
Foi algo que veio ao longo do tempo. Desde 1980, o vinho ficou ocupando cada vez mais meu tempo. Primeiro, começou com 30% de dedicação, aumentou para 40%, até que cheguei a um ponto em que precisei escolher. Foi uma evolução natural. O vinho é um hábito que você adquire, mas não mecanicamente. Quando você vê, o vinho te conquistou.
E como o senhor analisa o consumo de vinhos, hoje?
Está havendo uma evolução razoável. É um movimento crescente e natural.
Por vezes, o senhor ressaltou a questão do não elitismo quanto ao consumo de vinhos. Qual seria, então, o conceito da bebida?
É preciso tirar essa imagem de elitismo. Vinho é prazer. Você não precisa entender de vinho. A bebida é sofisticada, mas não elitista.
E quanto aos vinhos acrescidos de açúcar, o que o senhor nos diz?
Acho abominável. Fazer um tinto doce para ganhar público é abusar da superficialidade e enganar o consumidor.