O verdadeiro sentido do Terroir

Saberes do Vinho - Gilvan Passos

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Vinho só é tudo igual para as pessoas indiferentes ao vinho, para os adeptos da “cocacolização”, para os que buscam o previsível e o lugar comum dos rótulos. Para os verdadeiros amantes dessa bebida incrível, o que mais encanta no vinho é exatamente o oposto, sua pluralidade.

E a forma mais genuína de ser plural no vinho é ter identidade. É ter sentido de origem, refletindo na taça o seu clima, o seu solo, a sua gente e a as suas uvas (o seu habitat). É exatamente a soma desses elementos que os franceses sintetizam em uma pequena, objetiva e única palavra, sem tradução para outros idiomas, porém com um sentido gigantesco no vocabulário do vinho, “TERROIR”.

O solo contribui com seus aspectos químicos, térmicos, físicos e topográficos. O clima com seus fenômenos naturais: chuva, sol, luz, ventos, humidade, aridez. Tudo na quantidade e nos momentos certos. A uva, grande protagonista desse processo, sob condições favoráveis de solo e de clima, encontra o ambiente perfeito para expressar da melhor maneira o local, auxiliada pelo homem, cujo manejo é o provedor das medidas e condutas vitiviniculturas. E no campo e na cantina, através de uma gestão apropriada, e de uma vinificação e maturação assertivas, propiciará que o vinho expresse da melhor maneira sua natividade intrínseca.
Mais do que qualidade técnica, terroir diz respeito à identidade do vinho. Algo que tem o sentido de pertencimento, de origem. O que na opinião dos clássicos produtores do velho mundo traduz-se pelo aforismo: “O local diz mais sobre o vinho do que a uva”, o oposto do que encontramos no novo mundo.

A despeito da qualidade, o terroir é algo que confere identidade ao vinho, com seu real sentido de expressar um conjunto de fenômenos que definem sua origem. E foi pensando em assegurar essa identidade que surgiu, em 1935, na França, através do INAO – Institut National des Appellations d’Origine, as AOC – Appellations d’Origem Controlada – que logo ganharam a adesão dos outros países produtores do bloco europeu, para garantir que alimentos, bebidas e em especial, vinhos, não fossem fraudados mundo afora. Uma vez que havia produtores movidos apenas por interesses econômicos e sem escrúpulos nem ética laboral. É esse o verdadeiro sentido do terroir.