O discutível conceito da qualidade do vinho

Saberes do Vinho - Gilvan Passos

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O que é qualidade para você? A palavra QUALIDADE, quando aplicada ao dialeto do vinho, dá margem a um conceito amplamente discutível. O fato é que existem dois conceitos de qualidade, a qualidade técnica e a qualidade hedônica.

A qualidade técnica é mensurável tecnicamente, com base em parâmetros pré-estabelecidos e comparativos. É algo tangível desde que se tenha muito conhecimento técnico, muito treino e litragem. Essa é a qualidade sobre a qual se baseiam os críticos quando fazem suas análises.

A qualidade hedônica não é mensurável, porque apenas reflete as impressões pessoais de cada indivíduo em particular. É uma percepção única e intrasferível, que guarda estreita relação com as preferências e os gostos pessoais do apreciador. O termo Hedônico deriva de hedonismo, aquilo que dá prazer. Essa é a qualidade referida pelos apreciadores e consumidores comuns de vinhos, em suas apreciações.

Quando o consumidor bebe um vinho e acha-o maravilhoso, isso não quer dizer que ele apresenta muita qualidade, mas que determinadas características desse vinho lhe causaram uma boa impressão sensorial, e isso é, na verdade, agradabilidade, ou seja, o vinho o agradou sob determinados aspectos, dando valor à experiência.

Em resumo, excetuando a qualidade técnica, que não necessariamente será julgada como qualidade pelo consumidor comum, resta a qualidade hedônica, cujo nome mais apropriado seria agradabilidade e não qualidade, ou seja, um vinho, com muita qualidade técnica, poderá, com suas características (seus valores), agradar ou não alguns consumidores. Isso porque em geral só costumamos gostar do que conhecemos e compreendemos.

Por esta razão “vinho bom é aquele que você gosta”, mas o gosto (agradabilidade), apesar de ser mais importante do que a qualidade, nada tem a ver com esta, e como diria o saudoso médico e expert Sérgio de Paula Santos, “Gosto não se discute, se aprimora”.