“Ali tratavam de assuntos relativos ao céu e à terra. Enquanto bebiam o néctar, entretinham-se ao som dos acordes musicais da lira de Apolo”…

 

Esta é uma passagem da vida cotidiana do Monte Olimpo, na mitologia grega. De acordo com os gregos, os deuses habitavam o topo do Monte Olimpo, comandando de lá os trabalhos e relações sociais e políticas. Eram no total doze deles, e eram seres imortais, mas com características de humano.

 
Ontem eu pisei o Monte Olimpo. Não o da Mitologia grega, mas o encravado em Miramón, em San Sebastian. Ali, os deuses são nove, e são também imortais, através de suas artes, mas com características de humano, por realmente o serem. Também tratam de assuntos sociais e políticos, mas voltados para uma arte específica: a da gastronomia.
 
Trata-se do Basque Culinary Center. Uma escola de cozinha, cujo conselho é formado pelos deuses: Ferran Adrià, Heston Blumenthal, Rene Redzepi, Michel Bras, Gastón Acurio, Alex Atala, Massimo Bottura, Yukio Hattori e Dan Barber. Os gregos criaram muitos mitos, com a idéia de passar mensagens para as pessoas e preservar a memória histórica do seu povo, pois há três mil anos atrás não havia explicações científicas para a compreensão de vários fenômenos da natureza. No Olimpo de Miramón, as explicações científicas são estudadas à exaustão, para que se compreenda os vários fenômenos que acontecem no reinado das panelas. Assim como os gregos, estes deuses da cozinha, criam muitos acontecimentos de forma a preservar a cultura de seu povo.
 
Para os aficcionados pela gastronomia como eu, é difícil descrever a emoção de circular pelos corredores da escola pensada para criar seres pensantes. Para provocar. Para promover sonhos. Uma escola onde o respeito pela gastronomia se cruza com o respeito pelos produtos e pelo meio ambiente. Já nos primeiros minutos, fomos informados da política de sustentabilidade e direcionados no sentido de respeitá-los a partir de um simples lavar de mãos. 
 
O que se sente passeando pelas salas, é que a imponência do edifício, cruza-se com a imponência do trabalho executado por estes deuses conselheiros. Todos são grandes. Escola e deuses da cozinha. Homens que ousaram pensar numa gastronomia além do comer. Que a trataram como uma arte, e também como motivo de orgulho de uma nação, a partir do respeito aos ingredientes nativos. Homens que puseram a gastronomia local de seus países no mapa, e que seguem provocando a cada reunião onde se encontram ao redor do globo, para discutir formas de executar com maestria esta arte ímpar de alimentar o próximo. Pois apesar de deuses, eles são humanos, e sabem que a cozinha trata-se sobretudo disto mesmo: Alimentar o outro.
 
Pisei no Olimpo. E vi de perto o trabalho dos deuses. E de cima, é mais fácil olhar para os próprios sonhos. E eu posso dizer que ando por aqui, sonhando acordada. Com muito orgulho.
 

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