O que buscar no vinho ao degustá-lo?

Saberes do Vinho - Gilvan Passos

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Você consegue ouvir o que o vinho está dizendo? Há 5 informações elementares que um bom apreciador (com conhecimento técnico) deve buscar no vinho quando o degusta: caráter varietal, integração, expressividade, complexidade e vinculação.

O Caráter varietal – é o que gera tipicidade varietal no vinho, fazendo a distinção entre as uvas. A manga Tommy será mais saboreada quanto mais manga Tommy for. Da mesma forma, um Gewürztraminer que não exala lichia não tem tipicidade varietal da casta.

A integração – é mais do que equilíbrio, é o balanço, uma boa tenção entre os opostos do vinho, formando uma fusão harmônica entre acidez, álcool, taninos, açúcares e fruta. É mais fácil perceber um vinho não integrado do que um vinho integrado. O primeiro se apresenta como uma estrela na boca, fazendo sobressair algum dos seus elementos nas pontas.  Já o vinho integrado pode ser comparado a uma esfera, redondo, em que não se detecta sensorialmente um componente isolado.

A Expressividade – é a projeção clara e bem definida dos aromas e sabores. Enquanto alguns vinhos parecem difusos (às vezes confusos), outros irradiam o seu caráter com clareza quase irreais. O primeiro assemelha-se a um televisor em preto e branco, de imagem desfocada, enquanto o vinho expressivo assemelha-se a um televisor em alta definição. Observação: as vezes 2 vinhos de grandes vinhedos, bem feitos e do mesmo ano, podem diferir em expressividade por falha em alguma etapa do processo de feitura, ou mesmo por uma questão de oscilação climática ou terroir.

A Complexidade – Trata-se de um fenômeno, sendo a capacidade que um vinho tem de surpreender o apreciador sob todos os aspectos. Um vinho complexo é desafiador, imprevisível, provocador, gerando na frustração do apreciador uma busca cada vez maior pelo prazer. Observação: Se você não lida bem com o imprevisível, pode não o compreender e condená-lo. Afinal, eles não provocam reações simples e momentâneas, pelo contrário, são exatamente aquilo que não conseguimos explicar.

A Vinculação – é a expressão territorial do vinho, o elo entre o vinho e o seu habitat, a identidade cultural que o torna diferente de outro. Um vinho pode ser bom e esteticamente perfeito, no entanto sem vinculação, não terá identidade.

Resumo Geral – De imediato, o caráter varietal, a integração, a expressividade, a complexidade e a vinculação não parecem óbvios ao apreciador, porém saborear o vinho lentamente, focado nesses conceitos, fará com que, aos poucos, eles comecem a fazer sentido.

*Matéria ligeiramente modificada da Bíblia do Vinho de Karen MacNeil (Ediouro)