Verdades Incontestes do Vinho

Saberes do Vinho - Gilvan Passos

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Nada, mas absolutamente nada, é mais relativo do que a compreensão do universo do vinho. Neste tema, é de todo verdade que o absoluto passa longe, mas ainda assim ele passa, e se faz notar no senso comum daqueles que o observam em sua profundidade.

Afinal, vinho é tudo igual apenas para os indiferentes ao vinho. E não faltam razões que sustentem toda essa relatividade. Trata-se de mais de 5 mil variedades de uvas viníferas catalogadas entre brancas e tintas, plantadas mundo afora em países e regiões de climas e solos (topográfica, física e quimicamente) os mais distintos, manejadas pelo homem segundo os mais diversos modos viticulturais, e vinificadas, maturadas e guardadas através inúmeras técnicas diferentes. E não bastasse isso tudo, há na avaliação pessoal aspectos objetivos e subjetivos. Estes últimos os que mais corroboram para a diversidade de percepção que se encontra mesmo em vinhos iguais.

Mas mesmo assim, inúmeras verdades saltam aos sentidos dos mais afeitos à bebida. A primeira delas é: toda casta (variedade de uva), quando em prova novinho, sempre apresentará diferenças sensoriais notáveis entre suas iguais por razões intermináveis: mutações genético-clonais, clima, solo, formas de cultivo, métodos de elaboração e, em última análise, por causa do próprio avaliador, cujas percepções e interpretações sensoriais são sempre únicas. É isso que faz com que, às cegas, encontremos tantas diferenças entre varietais da mesma casta no aspecto visual e gusto-olfativo.

A segunda verdade é: quem define a excelência do vinho é tão somente a qualidade da casta (da uva), aliada ao talento e competência do produtor, mas o seu reconhecimento e sucesso comercial, necessariamente, dependerão de um marketing arrojado pelo qual se paga caro, às vezes, e da crítica especializada, nem sempre imparcial, ou alheia aos interesses dos bons produtores. A respeito disso, o crível são as menções críticas independentes, embasada em critérios técnicos e experienciais.

A terceira verdade é: os vinhos varietais básicos (comerciais), salvo diferenças genéticas gritantes entre as castas, não têm personalidade própria, porque se destinam a um mercado de consumo comum, afeito ao modismo do vinho, indisposto a investir em qualidade e ignaro à distinção, portanto, é tolice procurar nesses vinhos, aquele “arrebatamento” que só os caldos extraordinários revelam.

A quarta verdade é: jamais acredite que vinhos muito baratos (qualidade sempre terá limite mínimo de preço) possam ter uma qualidade natural, sem recorrência de recursos sintéticos, porque em favor desta pseudo-qualidade, a indústria recorre a toda sorte de truques e maquiagens, de modo a transformar produtos intragáveis, em algo, no mínimo, honesto.

A quinta verdade é: a classificação hierárquica imposta pelas Denominações de Origem do mercado comum europeu DOP, IGP, não garantem a excelência do vinho, porém apenas asseguram verdades como a origem das uvas e do vinho, rendimento por hectare, tempo de maturação, entre outros.

A sexta verdade é: jamais aceite sugestões de um crítico ou pessoa que não consiga transmitir, de forma clara, a proposta do vinho sugerido.

Afinal, como o vinho poderá lhe agradar se você não o compreende ou não compreende o seu próprio gosto?