Fotos: Rogério Vital / Deguste
O presidente da importara Expand, Otávio Piva de Albuquerque, que lançou em Natal a primeira loja do grupo no Rio Grande do Norte, oferecendo ao natalense uma variedade de mais de 200 rótulos da Europa, Estados Unidos, América Latina, África e Oceania, concedeu entrevista à Revista Deguste e falou, claro, sobre vinhos.
Otávio opinou e passar informações sobre o consumo de vinhos e o mercado brasileiro. “Nosso trabalho também é educar as pessoas para que elas entendam mais de vinho”, declarou. A importadora Expand foi fundada em 1978 e, hoje, além de Natal (churrascaria Fogo & Chama), a Expand tem loja em Salvador, Brasília, Fortaleza, Belém e São Luís. O grupo também teve uma franquia em Recife que está se tornando loja própria. O mix total da importadora tem 1.500 rótulos.
Revista Deguste – Como foi que surgiu essa parceria com a churrascaria Fogo & Chama?
Otávio Piva – Eu tenho amigos em comum com Paulo e, no ramo do vinho, o segredo do sucesso é o relacionamento com a pessoa certa e no momento certo. O Paulo estava pensando que caberia uma loja da Expand e como o restaurante é o lugar onde se degusta e isso é fundamental para posição de marca do produto, foi o casamento perfeito. Ele tem a adega, abastece o restaurante e ainda tem uma loja. Hoje, o Brasil tem 50 mil rótulos de vinhos, o que torna impossível conhecer todos. Então, como é que você vai descobrir os vinhos tomando. Até porque o melhor vinho do mundo é aquele que você gosta.
Revista Deguste – Esse tipo de parceria já existe em outros restaurantes, em outros estados?
Otávio Piva – Temos parceria no Bar des Arts, em São Paulo, onde também montamos uma loja. Pensamos que a loja de vinhos é local de passagem e o restaurante é destino. O cliente vem, por exemplo, na Fogo & Chama porque quer comer rodízio de carne ou uma lagosta e encontra uma loja de vinho, então, é mais fácil que ele compre o vinho dessa forma, do que sair de casa para comprar a bebida. Quando se tem só a loja de vinho, 50% das vendas é por telefone. Daí, a vantagem de um restaurante com grande movimento.
Revista Deguste – O portfólio da Expand em Natal já está fechado? Quantos rótulos serão?
Otávio Piva – Ainda estamos fazendo uma seleção de rótulos dentro dos 1.500 que nós temos e colocar aqui o filé mignon, além é claro, o que o mercado mais aprecia. Por exemplo, aqui é um mercado de muitos malbecs e muitos cabernet sauvignon chilenos, mas tem potencial para desenvolver o italiano, o francês, espanhol e português.
Revista Deguste – Principalmente, os de boa relação custo/benefício…
Otávio Piva – Sem dúvida. O segredo hoje é encontrar o melhor custo/benefício. A nossa especialidade é essa e construir marcas, ou seja, pegar um vinho bom e fazer com que ele se torne conhecido. Outro segredo é usar vinho como presente. As empresas têm opção de comprar seus brindes, pois presente se dá o ano inteiro.
Revista Deguste – Mas nesse primeiro momento, quantos rótulos estão disponíveis?
Otávio Piva – Estamos fazendo seleção com aproximadamente 200 rótulos e podendo ampliar. Também disponibilizamos o catálogo para que os clientes possam solicitar qualquer um dos nossos 1.500 vinhos.
Revista Deguste – E a questão dos vinhos brancos?
Otávio Piva – No Brasil, nos anos 90, 70% dos vinhos consumidos eram brancos, pois 55% eram vinhos da Alemanha. Com a queda do vinho alemão, o que substituiu foi o tinto. Então, hoje, o mercado é 90% tinto, 9% branco e 1% rosé. O branco e rosé estão crescendo, pois o vinho branco e o espumante tem tudo a ver com o Brasil, até mais que o vinho encorpado. O brasileiro está começando, finalmente, a descobrir o vinho branco. Essa é a evolução que vai dar maior prazer para todo mundo.
Revista Deguste – O consumo per capita de vinho no Brasil ainda não chega aos dois litros. O que está faltando para aumentar esse número?
Otávio Piva – Caírem os impostos. A carga tributária é uma das mais altas do mundo, representando, hoje, 70% do preço do vinho. Acho que os governos têm que abaixar isso. No Rio de Janeiro, por exemplo, um restaurante paga 2% sobre tudo que ele fatura, inclusive, vinho. Já o Rio Grande do Norte deveria ser 2%. Aqui o vinho paga 60% a mais e ainda paga 4% na saída, o que não é justo. O governo precisa fazer um regime especial exonerando os restaurantes. Até porque o vinho não é bebida alcoólica, é alimento. Está na hora de evoluir.
Revista Deguste – O que vocês, importadoras, estão fazendo para que os governos enxerguem isso, que o vinho é realmente um alimento?
Otávio Piva – Nós dependemos da boa vontade do Legislativo e do Executivo. Para diminuir as tarifas tem que ter os dois aprovando.
Revista Deguste – Até que ponto o lobby dos produtores brasileiros nacionais contribuem para manter essa carga tributária?
Otávio Piva – Eles também estão pagando uma carga tributária altíssima. Então, lutar contra o vinho importado é um tiro no pé, pois quanto mais vinho for consumido, melhor será a produção brasileira. Já tive vinícola no Rio Grande do Sul e falo sentado na cadeira de produtor. Hoje, o mercado evoluiu muito. O espumante brasileiro, por exemplo, não fica devendo em nada ao champanhe francês.
Revista Deguste – Recentemente, no episodio da implantação dos selos em vinhos, os produtores brasileiros apoiaram a iniciativa…
Otávio Piva – Na verdade, eles foram o gerador da medida. Foram no governo para boicotar a importação de vinho. Porém, isso tem um fator positivo que é inibir o contrabando do Paraguai, Uruguai e Argentina. Se houver fiscalização da Polícia Federal, da Receita Federal e até o Exército, vai funcionar. Eu vou a Foz do Iguaçu e no aeroporto tem vinho contrabandeado e ninguém faz nada. Então, o mercado sofre concorrência do contrabando e dos turistas que pagam apenas metade do meu imposto.
Revista Deguste – O que é que uma cidade como Natal precisa para desenvolver a cultura de se tomar vinho?
Otávio Piva – Precisa promover cursos de vinhos e, principalmente, beber vinho, pois é tomando que se conhece a bebida. Atrás de cada garrafa de vinho tem uma história, por exemplo. Daí a importância de uma loja como essa dentro de um restaurante. Até porque o nosso trabalho também é educar as pessoas para que elas entendam mais de vinho. Nosso trabalho é como se fosse o fermento da massa.