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Comer, Beber e Viver

O Chef Chu é um mago da cozinha. E ele atua nessa profissão com uma devoção quase poética, ao cortar, amassar, desbastar e fatiar os ingredientes dos pratos fabulosos que fabrica, ocultando suas emoções em verdadeiras obras de arte gastronômicas. O mago vive com suas três belas filhas lindas, onde cada uma busca uma coisa diferente: a mais velha, Jia-Jen é professora e se tortura pela perda de um grande amor no colégio. Jia-Chen é executiva de uma companhia aérea de Taiwan e vive sonhando com a possibilidade de sair de casa. A caçula Jia-Chien abomina o emprego em um fast-food, enquanto é amante do namorado da melhor amiga. E meio a esses conflitos existenciais, a plena realização de Chu se efetiva mesmo, durante a preparação da tradicional refeição de domingo, em que toda a família está unida.
Nesse ponto, o filme aponta para uma das cenas mais tocantes da história do cinema. A precisão com que ele prepara cada um dos ingredientes que farão parte da refeição é algo surpreendente, sublime. A beleza do preparo é análoga à beleza da refeição em si. Essa extrema dedicação no preparo de um cardápio para o deguste em família personifica o intenso amor que ele nutre por suas pelas filhas. E, assim, enquanto não conseguem encontrar uma rota clara que possam resolver seus destinos, os personagens, pai e filhas, redescobrem os sabores do afeto familiar e das conflitantes convivências, através da arte, beleza e sofisticação do banquete criado pelo Chef Chu, como a prova mais legítima de sua afeição paterna. No ato de cozinhar, ele também questiona a sua própria vida e encontra seu refúgio na profissão. Além disso, o filme, ainda, surpreende pela brilhante narração, cenário, o aprendizado da cultura chinesa e o ensinamento filosófico que envolve os personagens nas relações cotidianas.