Mitos e verdades sobre as safras

Saberes do Vinho - Gilvan Passos

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É bem verdade que as melhores safras nas regiões frias são as dos anos mais quentes, enquanto as melhores safras nas regiões quentes são as dos anos mais frios. Somente nessas condições, as uvas alcançam tanto a maturidade fisiológica quando fenólica juntas. E dessa maneira, podem gerar uvas de qualidade para fazer grandes vinhos.

Mas não é fato que isso se aplica a todas as regiões do Planeta, e menos ainda a todos os vinhos do mercado. No que tange aos vinhos, os comerciais (da base de toda pirâmide de produção das vinícolas), em sua grande maioria, não são produzidos no vinhedo, porém na cantina. Trata-se de vinhos industrializados, produzidos através de correções enológicas em que mostos ralos, desprovidos de fruta, frescor e equilíbrio, são ajustados, independentemente da safra. Esses vinhos são o que são aceitáveis, não porque vieram de uma matéria prima exemplar, no entanto porque foram corrigidos em suas deficiências. A expressão do ambiente “TERROIR” (solo, safra, manejo e variedade), com suas oscilações climáticas, só se fará sentir nas linhas intermediárias e superiores da pirâmide produtiva de qualidade das vinícolas.

Quanto às safras, reflexo das variáveis climáticas sobre as plantas, elas só têm alguma relevância em regiões de clima oscilante, dada a curva de maturação de cada variedade x suas necessidades de horas de sol, água e luz, ventos e umidade adequadas. Regiões de climas estáveis não apresentam, mesmo nas gamas mais altas das vinícolas, variações perceptíveis de qualidade de um ano para outro.

Há regiões importantes e países onde a safra pode fazer uma significativa diferença na qualidade do vinho, de um ano para o outro, são: o Sul do Brasil (Serra Gaúcha, Campanha e Planalto Catarinense), França (Bourgogne, Bordeaux, Alsácia, Loire), regiões vinícolas do Norte da Itália, Sul da Espanha e Portugal (por ser muito quente), Alemanha (por ser muito frio).

Todavia, para tornar o tema ainda mais complexo, há um aquecimento global, causado pela liberação desordenada de combustíveis fósseis na atmosfera, que tem tornado regiões, que no passado eram muito frias, improdutivas para o vinho, em regiões climaticamente favoráveis e férteis na atualidade. E regiões limítrofes do ponto de vista do aquecimento, em regiões produtoras, que deverão ser extintas em algumas décadas pelo excessivo aquecimento.

Por esta razão, não se preocupe com safra se o vinho que você compra cumpre com os objetivos do seu cotidiano, e tampouco se ele vem de um país ou região estável do ponto de vista climático.