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Como Água para Chocolate
Todavia, é o componente gastronômico que se constitui como um fio condutor da trama desenvolvida pelos personagens principais através de metáforas, cujos alimentos assumem papel representativo em grande parte. É através deles que Tita expressa seus desejos e sentimentos de amor, sacrifício e abnegação, assim como também os transmitem aos demais. Tita, que fora criada nos braços de Nacha, cozinheira da fazenda, envolta nos aromas mágicos da cozinha, assimila a sabedoria desta, e passa a desenvolver o dom alquímico para arte culinária, transpondo para os alimentos os seus mais profundos sentimentos, que transcendem para os comensais.
Esse dom desabrocha através de uma das cenas mais bela do filme, quando a protagonista prepara um banquete à base de codornas com molho de pétalas de rosa (as quais lhe haviam sido oferecidas por Pedro). Durante o processo de preparação do prato, Tita transfere para o mesmo toda a sensualidade e desejo de amor não realizado, o que desperta recordações do grande amor em cada um que se delicia do cardápio. Tal atmosfera potencializa um sentimento incontrolável que faz desabrochar toda a libido reprimida nos presentes, provocando a tomada de decisão em alguns personagens que fogem em busca de sua própria liberdade e realização de seus sonhos podados. Assim, é neste cenário, análogo ao clássico Romeu e Julieta, porém envolto em um ritual que envolve a magia do elo alimento/vida, aroma/perfume, sabor/sensação, textura/sensualidade que o filme foi considerado uma obra-prima, conquistando o prêmio de melhor filme no Festival de Gramado de 1993. Vale, ainda, acrescentar que expectador além de se transportar para a história romanesca, contempla um cenário de época primoroso em detalhes e sabor que aguçam todos os sentidos!