São Francisco: o Rio Milagreiro do Vinho Nordestino

Saberes do Vinho - Gilvan Passos

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Somente quando vimos de perto o ambiente da caatinga, com seu clima tropical semiárido, suas cactáceas: palma, xiquexique, mandacaru, aroeira, umbu e espinheiros de vegetação seca e pouca folhagem, aparentemente sem vida, é que percebemos o milagre que são os oásis verdes que ponteiam a vasta aridez, com suas frutas tipo exportação, transformando a vida da paisagem e das pessoas.

Nesse árido ambiente, com 300 dias de sol por ano, a vinha é uma sobrevivente que transforma a luz e o calor mortificante do sol em vida, graças à milagrosa água do Rio São Francisco (o velho Chico), que o homem faz chegar às plantas através da irrigação.

Essa é a descrição mais que perfeita do submédio São Francisco, que compreende os municípios de Casa Nova, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, polo vinícola nordestino, situado entre Pernambuco e Bahia, no Paralelo 8 Sul, próximo à linha do Equador.

Deve-se ao homem a união do Sol com a água milagrosa desse Rio, que tem nome de Santo, padroeiro dos pobres e desvalidos, dos animais e da lavoura, que transforma com sua água benta, a paisagem, gerando riqueza para toda região, que atrai em seus voos lotados com destino Petrolina, cidade limite entre Pernambuco e Bahia, homens de negócios dos mais variados segmentos, da agroindústria à construção civil.

Nesse cenário, a uva de mesa e a manga são as frutas que mais vicejam, seguidas das uvas viníferas que produzem durante todos os meses do ano, gerando um vinho muito original, com identidade própria, que desde 1986 com a Vinícola Botticelli, pioneira na produção de vinho local, cresceu e se multiplicou, resultando, atualmente, em 7 projetos vitivinícolas.

O destaque entre estes projetos, ficam com a Vitivinícola Santa Maria, que produz os vinhos da marca Rio Sol e pertence à Global Wine (grupo português), em Lagoa Grande, e com a Fazenda Ouro Verde, unidade da vinícola Miolo, que produz os vinhos da marca Terranova em Casa Nova na Bahia.

Com pouco mais de 3 décadas, o Vale do São Francisco já surpreende pelos números, sendo a segunda maior produtora de espumantes e sucos naturais de uvas, e o maior produtor e exportador de uvas de mesa.

São cerca de 500 hectares de vitis viníferas, produzindo vinhos finos tranquilos e espumantes, vinho licoroso e brandy, que abastecem 15% do mercado brasileiro, com uma produção de 8 milhões de litros por ano, gerando 30 mil empregos diretos, e movimentando R$ 1 bilhão por ano, segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho.

Tudo isso graças ao Sol, as Águas do velho chico e ao Homem, responsável por esta união.