Confraria SAV visita Mendoza, a terra do vinho

Publicado por Rodrigo Hammer em 07 de fevereiro de 2014

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Cercada de milhares de hectares de parreiras, a cidade de Mendoza, distante 1.000 quilômetros de Buenos Aires, atrai, anualmente, uma legião de turistas que vão até lá à procura dos melhores vinhos que a Argentina produz, e que faz tanto sucesso no mundo inteiro, principalmente aqueles elaborados com a uva Malbec, a casta mais importante do país.

Seguindo esse mesmo objetivo, a confraria Sociedade dos Amantes do Vinho – SAV – fundada, em Natal, há 10 anos por um grupo de amigos enófilos (eu faço parte desse grupo), esteve em Mendoza, em novembro passado, para fazer uma série de degustações e conhecer, in loco, o “circuito del vino”, visitando algumas das principais vinícolas da Argentina.

O Anna Bistrô tem uma bonita área externa, além de trabalhar com um cardápio contemporâneo

A viagem da SAV durou cinco dias (de terça a sábado). O tour enogastronômico teve início na primeira noite em Mendoza, com um jantar no bonito restaurante Anna Bistrô, que tem uma área externa aconchegante com muitas velas espalhadas pelo jardim, passando um clima romântico ao lugar. No mesmo nível da beleza do restaurante está a comida do Anna Bistrô, contemporânea e muito saborosa.

Sala onde ficam armazenadas as 300 barricas de 225 litros dos melhores vinhos da Catena

No primeiro dia de visita às vinícolas, uma grande expectativa tomou conta do grupo, já que os 14 confrades iriam conhecer a bodega Catena, do famoso empresário e empreendedor Nicolás Catena Zapata. Este homem que mudou a história do vinho na Argentina, quando, nos anos 80, depois de morar por alguns anos na Califórnia (EUA), introduziu no país novas formas de plantio e técnicas de vinificação.

Fachada da vinícola Catena impressiona os visitantes com seu formato de templo Maia

A Bodega é muito bonita e impressiona assim que a pessoa chega, com seu visual diferente, em formato de templo Maia. A degustação aconteceu no anfiteatro, uma sala envidraçada, com uma enorme mesa de madeira com vista para a sala onde ficam armazenadas as 300 barricas de 225 litros que guardam os vinhos tops da Catena, que elabora, anualmente, cerca de 3,5 milhões de litros de vinhos, distribuídos em cinco mil barricas, utilizadas durante três anos.

 

Foram degustados os vinhos feitos com as uvas Chardonnay, Malbec e Cabernet Sauvignon da linha Catena Alta e os tops Nicolas Catena 2009 e o Catena Zapata Estiba Reservada 2005, este um dos melhores vinhos que a Argentina produz.

Os confrades registraram com suas assinaturas a visita à bodega Catena

A degustação na Catena foi abrilhantada com a inesperada participação do enólogo e diretor técnico da vinícola, o simpático Alejandro Vigil, que elabora, em parceria com Adriana Catena, filha de Nicolas Catena, o surpreendente e saboroso vinho El Gran Enemigo, que foi gentilmente doado por ele para “fechar” a nossa degustação.

O grupo da SAV reunido na linda sala especial de degustação, antes de começar os trabalhos

O El Gran Enemigo 2009 é um corte de Cabernet Franc, Petit Verdot e Malbec, com passagem de 18 meses em barricas. Apresenta uma coloração escura-violácea e, com certeza, é um vinho de guarda, que só vai melhorar com o passar do tempo. Mas, para quem quer degustá-lo agora, esse vinho revela-se delicioso, com taninos macios e um leve defumado. Na boca, apresenta um toque de mirtilo e amora, com final prolongado.

A vinícola Cobos é conhecida por elaborar vinhos de alto padrão

A segunda visita foi à vinícola Cobos, também de grande prestígio por elaborar vinhos muito elegantes, desde a sua linha mais simples até os tops. Foram degustados nove rótulos, sendo quatro da linha Felino (Chardonnay 2013, Merlot 2012, Malbec 2012 e Cabernet Sauvignon 2012) e cinco da linha Bramare (Vale de Uco Malbec 2011, Luján de Cuyo Malbec 2011, Apellation Cabernet Sauvignon 2011, Marquirori Mal­bec 2011 e Marquiori Cabernet Sauvignon 2011). A degustação foi conduzida pelo simpático Pablo Bustos, do setor de Hospitalidade da Cobos.

Apresentação de toda a linha de vinhos da Cobo

No início da noite, ainda estavam programadas duas visitas a bodegas antes do jantar, uma na Caro e outra na Escorihuela. A vinícola Caro é uma parceria bem sucedida entre a francesa Domaine Barons de Rothschild (Lafite) e o produtor argentino Catena Zapata. O nome “CARO’ é a junção das iniciais de Catena e Rothschild, com a proposta de elaborar vinhos com as melhores características do estilo francês e a riqueza do ‘terroir’ argentino.

A degustação na Cobos foi conduzida por Pablo Bustos, do setor de Hospitalidade

A degustação na Caro contou com a participação do chefe de Operações Enológicas, Luis Go­mez, e da manager em hospitalidade, Maria Eugênia Sánchez. Fo­ram degustados os vinhos Aruma Malbec 2011, o Amancaya Mal­bec/Cabernet Sauvignon 2011 e o Caro 2010, o vinho top da vinícola, muito elegante e delicioso, com estilo bem francês.

 

Nessa noite, a SAV foi jantar no restaurante 1808, do famoso chef Argentino Francis Mallmann, eleito pela revista inglesa Restaurant o 37º melhor restaurante da América Latina em 2013. O 1808 é lindo, agradável e muito interessante, por ter um enorme jardim em forma de quadrado, circundado parcialmente por um amplo terraço coberto. No fundo, avista-se um fogo de lenha muito poderoso, não deixando dúvidas de que ali a carne é o carro chefe, embora haja outras boas opções no cardápio.

O poderoso fogo à lenha do restaurante de Francis Mallmann

Na quinta-feira, fomos conhecer a moderna vinícola O. Fournier, que pertence ao empresário José Manuel Ortega Fournier, um ex-banqueiro espanhol. Essa bodega tem um conceito arquitetônico que destaca o valor ambiental da construção. Para minimizar a utilização de bombas, ele usa gravidade e produz cerca de 1,2 milhões de litros de vinho por ano. Outro destaque é um laboratório químico para fazer as experiências vinícolas, além de manter a qualidade da produção.

O 1808 é considerado o melhor restaurante de Mendoza

Na O. Fournier, foram degustados cinco rótulos, com destaque para o O. Fournier 2006, um corte de Malbec e Cabernet Sauvignon. Trata-se de um vinho moderno, elegante com muita fruta e madeira bem equilibrada.

A linda sala de armazenagem das barricas da O. Fournier

Depois da degustação, fomos encaminhados para almoçar no excelente restaurante da O.Fournier, o Urban, que nos surpreendeu pela excelente qualidade da comida, contemporânea, refinada e muito gostosa. Ele tem paredes de vidro, que permitem uma bonita imagem das videiras.

A vinícola O. Fournier é uma das mais modernas da Argentina

Ao grupo da SAV foi servido um menu degustação em seis tempos, com dois aperitivos, uma entrada, um prato principal e duas sobremesas. Tudo incrivelmente bem elaborado.

 

Os aperitivos foram uma Espuma de parmesão com cebolas caramelizadas ao Chardonnay e Tortilha espanhola, envolta em pimentão vermelho com redução de tomate. A entrada foi uma Delícia de carne com pimenta e salada verde. Os dois pratos principais, para escolher: um Bife de chourizo ao seu ponto com vagens verdes ou Raviólis de abóbora recheados de calabresa com espuma de queijo. De sobremesa, saboreamos um refrescante Sorbet de Torrontés com medalha de chocolate e um Sorvete de geléia de laranja com picos nevados de brownie, praliné e caramelo. Para muitos dos confrades, essa foi a melhor refeição de Mendoza.

Na sexta-feira, último dia de visita às vinícolas, fomos conhecer a Pulenta e a Vistalba. Na Pulenta, que elabora apenas 450 mil litros de vinho por ano, degustamos vários rótulos, como o Pulenta Estate 2010, um corte de Malbec e Cabernet Sauvignon; o Gran Malbec 2010; o Gran Cabernet Sauvignon 2010 e o Gran Corte 2010.

 

O almoço foi na própria Pulenta, uma autêntica parrilla, feita especialmente por Alberto Quiroga Arenos, “importado” da equipe do 7 Fuegos, que é outro famoso restaurante de Francis Mallmann. De entrada, foi servida uma bela tábua de frios com queijos, salames, presuntos e pães, enquanto aguardava-se pelos principais cortes do churrasco argentino. Tudo isso numa área verde de frente para as videiras e a Cordilheira dos Andes. Cenário bucólico de muita beleza.

 

Entrada principal da Pulenta, que produz apenas 450 mil litros de vinho por ano

A última degustação da viagem foi na Vistalba, onde provamos todos os vinhos da vinícola, com destaque para o espumante rosé Progenie II e o top, Vistalba Corte A, um vinho muito bem feito com passagem por18 meses em barricas de carvalho francês. A sua cor apresenta um vermelho rubi com reflexos negros. Tem aroma de frutas vermelhas maduras com notas de baunilha, chocolate e tabaco. Em boca é encorpado, com taninos firmes e em processo de evolução, com final prolongado. Excelente vinho!

 

O jantar foi no badalado e charmoso restaurante Azafrán, ambientado como um velho armazém com móveis de madeira. Os vinhos são um destaque com mais de 300 rótulos para escolher. Eles ficam guardados numa bonita adega com mesa para degustação/jantar. A comida não me surpreendeu, porém mesmo assim eu recomendo esse restaurante, que é muito bem avaliado pelos turistas.

Benício e Joelma Siqueira fazem um rafiting no rio Mendoza

No sábado, com o dia livre, ainda me aventurei com Joelma Siqueira num programa diferente e com muita emoção, um rafting pelas águas geladas do Rio Mendoza, aos pés da Cordilheira dos Andes. Visual incrível e uma experiência pra lá de inesquecível.

A Vistalba foi a úitima vinícola a ser visitada pela SAV

Minha última noite em Mendoza foi brindada com um jantar no bonito e sofisticado Bistrô M Restaurant & Terraces, do hotel Hyatt. Serviço e comida em alto nível. Para 2014, a confraria SAV já definiu o roteiro da nossa próxima viagem: será no dia 21 de novembro para Portugal, em visita as cidades de Lisboa e Porto. Até lá!

Amostra da sensacional degustação na Vistalba