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Página anteriorParis é uma festa!
Texto: Benício Siqueira
Essa célebre frase é título de um livro do grande escritor americano Ernest Hemingway, onde relata o período em que viveu e morou na cidade, nos anos 1920, com todo seu movimento, bares e agitação cultural.
Depois de tantos anos, essa atmosfera parisiense permanece. Estive em Paris no mês passado e pude constatar quer a cidade continua sendo uma verdadeira festa! Paris recebe, anualmente, milhares de turistas de todos os recantos do mundo, para conhecer as belezas dos muitos monumentos históricos que fizeram de Paris uma das cidades mais bonitas do planeta. Isso se falar da gastronomia, uma atração à parte.
Perder-se pelas ruas de Paris é uma das melhores programações para um turista, pois é onde se tem possibilidade de descobrir um pouco do estilo de vida do parisiense. E foi isso que eu procurei fazer.
Andando pelas redondezas do hotel em que estava hospedado, descobri uma rua sensacional, com muitas atrações gastronômicas. Há de tudo um pouco: lojas especializadas em queijos; padaria que produz pães artesanais de vários tamanhos, formas e sabores; lojas de doces difíceis de resistir; lojas de vinhos de pequenos produtores; bancas nas ruas vendendo peixes, ostras, lagostas vivas, defumados, embutidos; rosas e refeições rápidas. Eu, simplesmente, não queria sair dessa rua. A vontade era provar um pouco de tudo, pois a maioria dos produtos que estavam à venda era frescos e de qualidade inquestionável. De tudo o que vi, o que mais me chamou a atenção foi uma fromagerie. De espaço reduzido, ela oferecia aos clientes dezenas de tipos de queijos, alguns com textura curiosa e cheiro até desagradável mesmo. Só que a loja tinha um movimento frenético de clientes. Sempre que eu passava por ela, dava uma “espiada” para dentro da loja e, em todas as vezes, havia gente comprando queijos.
Outro lugares que me chamou a atenção foi a Galeria Lafayette, um dos grandes templos do consumo em Paris. Enquanto as turistas ficavam embelezadas com os estandes de grifes famosas como Channel, Bulgari, Christian Dior, John Galliano, Louis Vuitton, Nina Nicci, Yves Saint Laurent e tantas outras, procurei o espaço gourmet. Havia muita coisa interessant para se deliciar. Mas o espaço dedicado às especiarias mereceu atenção mais detalhadas. Fiquei impressionado com a variedade de pimentas, condimentos, azeites, molhos e outras iguarias. Com a devida permissão do atendente, saí cheirando quase tudo o que encontrava pela frente. Foi um “porre” de odores que eu jamais esquecerei. Depois de insistir um pouco, consegui tirar algumas fotos para ilustrar esta matéria.
A avenida mais famosa de Paris, a Champs-Elysées, realmente faz jus à fama. Também é um grande pólo de compras de marcas famosas, como a Sephora, a Christian Dior ou a Louis Vuitton, que fica de esquina numa loja muito bonita e onde se forma fila para compras nada básicas. Mas a gastronomia também pede passagem pela Champs-Elysées. Sentar numa das mesas externas do famoso Café Fouquet’s e jogar conversa fora vendo o movimento dessa avenida é uma programação simples, mas muito prazerosa. Também existem bons bistrôs lá.
E o que falar do tradicional passeio de barco pelo Rio Sena? Se for fazer, que o faça com estilo e classe. Existem vários tipos de embarcações, mas se você quer um pouco de glamour, faça o passeio da famosa empresa Batoux Mouches com jantar a bordo. O passeio dura quase duas horas e, enquanto se aprecia o belíssimo visual de Paris, os passageiros vão degustando um menu completo com direito a garrafa de champanhe, garrafa de vinho, petiscos, entrada, prato principal, prato de queijo, sobremesa e café. No final do passeio, o barco passa em frente à Torre Eiffel, que, iluminada, enche os nossos corações de alegria com toda a sua beleza.
No boêmio bairro de Montmartre, depois de visitar a famosa Sacré Couer e a Place du Tertre, onde artistas instalam seus cavaletes para fazer, ali mesmo, os retratos dos turistas ou simplesmente vender suas obras, descobri, um pouco mais afastado, um bistrô típico de bairro, daqueles frequentados basicamente pelo parisiense, o L’Etoile de Montmartre. De comida boa com preço honesto (prato em torno de 15 euros), tem um público cativo. O ambiente da casa é simples e informal, mas com boa apresentação. O crême brulée, feito com baunilha de madagascar, custa apenas seis euros e é uma maravilha. A terrine de foie gras é uma boa opção para a entrada. No prato principal, como estava com muita fome, fiz uma opção básica e comi um Côte de Bouef au Sel de Guérande (bife grelhado com batatas fritas). Ei, você sabia que o francês gosta muito dessa combinação?
O Moulin Rouge continua atraindo centenas de turistas para assistir aos três shows que acontecem todas as noites a partir das 19h. Símbolo da noite parisiense, o lugar faz fama desde que abriu as portas, em 1889, e serviu de inspiração para artistas com o Touluse-Lautrec. Aliás, existe um belo quadro pintado por ele no salão de entrada.
Outro achado em Paris foi um bistrô próximo à famosa igreja de Notre Dame, Au Vieux Paris (24, rua Chanoneinesse), instalado numa pequena e bucólica rua. De excelente comida, a casa funciona em um imóvel bastante antigo, datado de 1512, e oferece aos clientes a cozinha tradicional francesa, com cardápio enxuto mas tudo muito bem preparado pelo chef Kebe Babery. O atendimento fica a cargo do simpático maître Frederic Benani, que nos recebeu muito bem. O ambiente é realmente bonito e divide-se em dois, um minúsculo, no térreo e com poucas mesas (onde fiquei), decorado com objetos antigos, e outro no primeiro andar, um pouco sóbrio com paredes vermelhas. As mesas são muito bem arrumadas, com talheres de prata, louça antiga e taças nada convencionais. Na hora de pedir um vinho, o cliente é convidados a conhecer a adega do bistrô, que fica num subterrâneo com controle de temperatura. Os vinhos, todos franceses, são separados por faixa de preço, a partir de 20 euros até 200 euros.
Como eu adoro foie gras, não resisti à tentação e pedir mais uma vez essa iguaria, que estava deliciosa. No prato principal, um magret de canard com molho de laranja. Perfeito. E de sobremesa, fui novamente de crême brulée. Não me arrependi. No final do almoço, bastante satisfeito com tudo o que provei (inclusive o vinho), saí de lá com gostinho de quero mais. Só que no dia seguinte eu tinha que pegar o avião de volta para Natal, para escrever esta matéria para você, nosso querido leitor.
Falar de Paris renderia páginas e mais páginas. Como isso não é possível, termino esta matéria do jeito que comecei: Paris é uma festa!