A arte da torra

Papo Café - Ricardo Sousa

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Torrar café, atualmente, tem sido a prática da cadeia cafeeira que tenho sentido mais romantismo. Tenho praticado incansavelmente e estudado bastante sobre torra e suas reações químicas, para me aperfeiçoar cada vez mais no processo em que é evidenciado todo o potencial do grão. Não que, agora, compreenda que o preparo do café para a xícara tenha perdido o valor, longe disso, todavia a torra me pegou de jeito.

A cada batelada, me sinto desafiado e obstinado a conseguir alcançar o melhor que aquele grão de café pode oferecer, de várias maneiras. E o cheiro? Gostaria de poder trazer um pouco do aroma que fica no ambiente para você, leitor, mas ficarei devendo essa. É uma mistura de pão assado, com bolo de frutas e o clássico cheiro de café tudo saindo fresquinho na hora. Espero que todos possam presenciar uma torra de café um dia. É muito bom.

O café vem verde da fazenda, como um grão cru. Para ser consumido como bebida, deve ser torrado, de preferência, em um torrador de café que tenha controle sobre as variáveis, como temperatura empregada, quantidade de energia, fluxo de ar no A arte da torra interior, pois a partir do momento em que o café entra no torrador, cada mudança na forma da torra irá modificar o sabor final. Combinando essas mudanças e ajustes de diferentes maneiras, podem dar um sabor totalmente diferente para o mesmo grão de café. Se torrado de uma forma, pode sair um café frutado, se de outra, dar um achocolatado, complexo, ou mesmo um sem graça.

Ao passo a passo criado para se conseguir determinado sabor naquele grão específico dá-se o nome de perfil de torra. O desafio é criar um perfil que venha propiciar as reações químicas ocorrerem dentro do grão gerando o melhor sabor possível. Alguns grãos conseguem mostrar mais de um perfil excelente.

Depende do torrefador saber interpretar cada mudança e traçar um plano para qual linha seguir. Hoje, quando estou de frente para o torrador com um grão novo de café, fico fascinado com a quantidade de possibilidades que ele pode conter e o tanto de história que carrega. É quando tudo isso começa a se mostrar na prática com as combinações de variáveis a medida que a torra vai se seguindo. Quando sai aquele cafezão no final? Ah! Não tem como não ser romântico. E o cheiro?