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Página anteriorA revolução do Canephora
Com o crescimento e disseminação do conceito de café especial, não apenas os produtores de café Arábica estão preocupados no aprimoramento da lavoura e, consequentemente, da qualidade do café, como também os produtores do café Robusta. O empenho foi tanto que, em 2018, a Associação Brasileira de Cafés Especiais reconheceu oficialmente como café especial alguns lotes de café Robusta e Conillon. Esse é um grande avanço para a produção nacional, pois mostra que regiões que não têm o favorecimento geográfico ao plantio de café Arábica também podem investir na cultura do café de qualidade.
O café é uma planta da família das Rubiaceae, do gênero Coffea, que compreende 124 espécies catalogadas. Dentre elas, somente duas têm grande desenvolvimento para o mercado consumidor como bebida, Coffea Arabica e Coffea Canephora. O gênero Arábica é geralmente vinculado como uma bebida de maior qualidade e atributos de sabor, enquanto o Canephora é mais utilizado na grande indústria do café, na composição de blends, ou na produção do café solúvel, por ser um café de menor custo, por alguns atributos visuais ou pela maior concentração de cafeína, entre outros. Apesar de, na maioria das vezes, este último não apresentar grandes atributos de sabor, é muitas vezes escolhido para plantio por ser mais resistente a pragas, temperaturas mais altas e maior escassez hídrica, adaptando-se a baixas altitudes.
Segundo a SCAA, “Café Especial é definido por uma bebida à base de café que é reconhecida pelo consumidor (em um mercado específico e em determinado período) como tendo qualidade única, sabor singular e personalidade diferente e superior às bebidas de café, geralmente servidas. A bebida deve utilizar grãos produzidos sob procedência controlada e altos padrões de qualidade no processamento do café cru, na torra, envaze e preparo”. No Brasil, há dois grandes centros produtores do C. Canephora. Rondônia, com o varietal Robusta (robusta, com “r” minúsculo também se refere a um nome popular para o gênero C. Canephora), e Espírito Santo, com o varietal Conillon. Ambas apresentaram lotes de altíssima qualidade, que se enquadraram como café especial.
O sabor do robusta especial é intenso na xícara, encorpado, com amargor leve. Para espresso, forma uma crema mais densa se comparado ao arábica. Apesar de muitas vezes menosprezados, alguns torrefadores já discutem utilizar esse tipo de café nos seus blends, sem comprometer a qualidade da bebida final. Aqueles que já experimentaram um café robusta antes, vale a pena provar novamente e sentir a diferença. Aos que nunca provaram, vale a dica de não comparar com arábica, pois são grãos completamente diferentes, inclusive geneticamente. No entanto, aqueles que gostam de um café mais intenso tenho certeza de que vão se agradar.