Alta no café

Papo Café - Ricardo Sousa

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Esses dias, fui indagado sobre o aumento do preço da xícara de espresso em diversas cafeterias do país. Meu amigo apontava esse fato como um indicador da inflação e culpava a crise provocada pelo COVID-19 como principal responsável. Em partes, o aumento geral dos preços e a crise mundial se devem a isso, porém no caso do café, houve mais alguns agravantes este ano.

No dia 20 de julho deste ano (2021), ocorreu uma intensa geada no Sudeste do país, considerada a pior em 27 anos, afetando 300 cidades produtoras, incluindo regiões de produção volumosa e de grande expressão de âmbito global, como o Cerrado Mineiro, Sul de Minas e Alta Mogiana. Esse fenômeno natural causou uma perda bastante significativa de plantações e sacas que estavam por colher. Uma geada, com temperaturas abaixo de 2°C negativos, congela a seiva da planta e as células se rompem, danificando as folhas. E, à medida que a temperatura cai, segue atingindo os ramos e o caule, matando consequentemente a planta. O estresse causado aos cafeeiros sobreviventes afeta o desenvolvimento das gemas florais e dificulta a florada e produção do ano seguinte. Agricultores de produção familiar (que correspondem a 78% dos cafeicultores nacionais) são os mais impactados.

O Brasil é responsável por 40% da produção mundial de café, sendo o maior exportador do grão. A produção e eventos relacionados ao café afetam diretamente o valor do café no mercado internacional. O preço da saca varia, conforme a oferta e demanda. A cotação é acompanhada pela bolsa de mercadorias e futuros. A regra é simples: se há abundância, o preço cai; se há escassez, o preço sobe. Uma redução tão significativa na quantidade de café para venda, provocada pela severa geada, empurrou bastante os preços para cima, ocasionando uma alta histórica no valor do café no mundo.

O café especial e superior não seguem a cotação, porém é afetado diretamente. Além disso, no ano de 2020 tivemos café em abundância, mesmo com a pandemia, o ano foi bem generoso com os cafezais. O cafeeiro tem uma característica: se em um ano produz muito, no ano seguinte produz menos, que é chamado de ano de bienalidade baixa ou negativa. Era de se esperar que o ano de 2021 tivesse uma produção menor, e os preços já acumulavam alta.

Os eventos citados irão assombrar o mercado por até 4 anos, tempo para que as consequências da geada sejam recuperadas. As sacas da safra nova começaram a ser torradas e as torrefações e cafeterias mantiveram os preços enquanto duraram os estoques anteriores, mas diante do aumento recorde de insumos, do custo geral de produção e o preço das sacas nas alturas, para o consumidor, o preço do café coado e expresso ficarão cada vez mais caros.