Delivery é alternativa positiva para restaurantes suportarem quarentena

Publicado por Washington Rodrigues em 07 de abril de 2020

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Empresários do ramo reconhecem necessidade de fechamento temporário dos salões e aderem ao delivery

Restaurantes e docerias que nasceram com vocação para atendimento em salão e desse modelo de atividade produzem o principal de seus faturamentos foram tomados, assim como todo o mercado da gastronomia mundial, pelo choque da quarentena imposta pelo coronavírus (Covid-19).

Não fosse o delivery, todo o mercado já estaria quase totalmente parado, pois a quarentena também tem o efeito colateral de inibir o volume daqueles clientes que costumam ir buscar a comida em balcão para evitar as taxas de entregas.

Clientes agora consomem a comida do seu restaurante preferido de casa

A DEGUSTE conversou com alguns donos de restaurantes de Natal para saber deles como está a relação com o mercado agora que o delivery é o mecanismo principal de contato com o consumidor.

Todos concordaram que o número de pedidos em delivery aumentou bastante. Quem não oferecia esse serviço providenciou uma plataforma agora na crise.

A maioria admite, porém, que as entregas por aplicativo ou telefone não serão suficientes para manter o funcionamento das casas no padrão de antes da quarentena. Quanto mais rápido a pandemia for embora, melhor para todos; para a saúde das pessoas e para a manutenção dos empregos.

Páprika Pizzaria tem delivery todos os dias

Um dos sócios do Páprika Pizzaria, Roberto Cavani, reconhece que apesar da gravidade do problema econômico, o isolamento social é a melhor alternativa neste momento. Ele explica que não há como fugir dessa realidade. Nascido na Itália e vivendo no Brasil há mais de 10 anos, Roberto lembra que em seu país de origem o número de casos do coronavírus ganhou repercussão mundial pela demora no entendimento da população sobre a complexidade da situação.

Roberto admite que o delivery, que está funcionando diariamente, é apenas um paliativo para o funcionamento do restaurante, pois a maior parte do movimento tem origem no atendimento de salão e no fluxo dos turistas. Com a atividade turística parada, os hotéis vazios e os clientes sem sair de casa, o restaurante vai sentir o golpe sensivelmente e demorar alguns meses até retornar a um nível de funcionamento satisfatório, a exemplo da maior parte dos estabelecimentos.

Maître Marcos Marinho fala sobre situação do Marechal Restaurante que antes não fazia entregas

Um dos controladores do restaurante Marechal, Marcos Marinho, explica que o restaurante não trabalhava com delivery e que a operação foi criada de uma semana para outra, já sob os rigores da quarentena.

Neste momento, o Marechal está refinando o serviço a partir das primeiras experiências de entrega e organizando o cardápio com o modelo mais adaptado para o delivery.

Restaurantes adaptam cardápios para atender melhor em nova realidade

Marcos Marinho diz que o sistema de entregas vai ajudar na manutenção do custeio básico do Marechal, mas não substitui a fórmula de atendimento em salão, atividade para qual o restaurante foi idealizado.

O dono do Don Matias, de Ponta Negra, o empresário Matias Medeiros, disse que o seu restaurante funcionava há cerca de oito meses com o delivery e que agora o modelo teve que ser implementado como a rotina principal da casa.

Don Matias também se adapta à nova rotina para atender pedidos com segurança para o consumidor

Assim como Roberto do Páprika e Marcos Marinho do Marechal, Matias conta que o Don Matias foi formulado para ser um restaurante com atendimento de balcão, no modelo tradicional, e esse tipo de atividade é que mantém o volume de recursos para quitar todas as contas. O delivery, neste momento, é importante mas apenas uma alternativa de manutenção de uma fração da atividade da casa durante as severidades da falta de clientes.

Chef Daniel Cavalcanti preparou seleção de pratos para encomendas no Cacudo Bistrô

VAMOS SAIR DESSA – “Neste momento, trabalhar com delivery tem sido importante para manter nossas mentes ativas e nossas empresas com alguma esperança de sobreviver. Mostrar para todos que não desistimos e que em breve vamos sair dessa. O importante também é que estamos levando comida para quem está em casa durante essa quarentena”, comenta o empresário e chef de cozinha Daniel Cavalcanti, do Cascudo Bistrô, na esquina da Rua Mossoró com Rodrigues Alves, no Tirol/Petrópolis.

Daniel já trabalhava com entregas há cerca de três anos e, durante a quarentena, está implementando atualizações no cardápio com foco na eficiência do delivery. E segundo ele, os cuidados com a manipulação dos alimentos estão redobraras. Fazendo tudo conforme as orientações da vigilância sanitária.

Alguns dos melhores pratos do Lotus estão disponíveis para pedidos

Uma das principais casas de comida oriental de Natal, o Lotus Japanese, em Ponta Negra, já possuía serviço de entrega, mas não como foco substancial da casa. Agora o restaurante está com dedicação integral a esse modelo.

Uma das controladoras do restaurante, Michelli Mognatti, conta que ao ver o decreto da quarentena, uma das primeiras medidas foi cortar os insumos mais caros, por causa dos custos de produção de alguns pratos.

Para ela, o delivery tem sido de grande ajuda. “Assim conseguimos pagar pequenos fornecedores que precisam tanto quanto nós para se manterem no mercado. O delivery tem sido importante para escoar a matéria prima que não pode ficar estocada por ser perecível”, explica Michele.

Michelle Mognatti, que administra o Lotus com Joelson Leite, acredita que mercado será transformado após crise do coronavírus

A dona do Lotus também tem preocupações com o futuro. Pela gravidade do problema, muitas pessoas passarão por dificuldades em muitos lugares do mundo e o relacionamento de alguns restaurantes com o mercado terá que ser repensado, principalmente aqueles que investem em produtos muito caros.

“Acho que teremos uma grande revolução. O fim de um modelo de comportamento. Restaurantes de alta gastronomia, experiências gastronômicas caríssimas, insumos caros… não farão mais sentido em um futuro próximo. Ter foie gras pra vender se temos pessoas que vão passar fome nos próximos meses será contraditório”, preocupa-se Michele.

Tortas, doces e salgados de Daguia Tortas Finas são entregues em delivery

Uma das docerias mais famosas e longevas de Natal, a Daguia Tortas Finas já funciona com delivery há um ano e essa experiência está sendo muito válida no momento.

“Nesse início de observação estamos satisfeitos porque o cliente continua consumindo o nosso produto. Aqueles que tradicionalmente vinham no salão agora mandam pedir pela entrega”, comemora Jorge Franklin Aurélio dos Santos, gerente e sobrinho da fundadora da marca, a doceira Maria da Guia.

Franklin conta que a marca passou a investir em incentivos para as pessoas criarem o hábito da entrega. As tortas continuam sendo o carro-chefe da casa, mas os salgados, principalmente as empanadas, que começaram a ser fabricadas recentemente, agregaram volume ao delivery.