O habitual ou o surpreendente?

Opinião - Arthur Coelho

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Qual escolher? Ao abrir um cardápio, o comensal inicia imediatamente esse duelo, consciente, tendencioso ou aparentemente despretensioso, porém o resultado da escolha pode desencadear em um movimento antagônico entre o PRAZER e a FRUSTRAÇÃO!
 
Esse desafio, transfere-se para os cozinheiros e chefs, como um duelo mortal: que rumo tomar na hora da concepção de um cardápio, da modificação do mesmo, da comercialização com sucesso. E, além disso, o que fazer para atender esse duplo antagônico: PRAZER e FRUSTRAÇÃO? 
 
O próprio comensal, na maioria das vezes, já se impõe uma escolha confortável, sem riscos, que satisfaz o seu paladar e sacia a sua fome, mas no final de sua escolha, se pergunta: Não teria sido melhor provar algo novo? Não teria sido mais legal ser surpreendido por um novo sabor? E se tivesse escolhido esse prato ao invés daquele? A dúvida permanece… Garante ele que, na próxima escolha, dar-se-á o luxo da possibilidade da surpresa, ao invés da confortável escolha que se mantem a longos anos!
 
Para ilustrar, veja o exemplo de um prato simples, tradicional, sem surpresas, aceitabilidade total de 8 entre 10 comensais: FILÉ PARMEGIANA (risos!). A tentação da escolha confortável, pela lembrança gustativa, pelo sabor conhecido e pela tradição, impede quase que, automaticamente, se surpreender de forma inusitada, por uma nova escolha, por um novo prato e por se permitir aumentar sua memória gustativa.
 
Surpreender, encantar, inovar e mudar o hábito do consumo requer paciência, pesquisa, testes, análises críticas impessoais e prontas para ajustes sem melindres e com consciência de que o target é o cliente consumidor, que movimenta o caixa, consolida empregos e empresas, desenvolve atividades econômicas, cidades e divulga a cultura alimentar local.
 
O bom senso, a criatividade e a operação devem primar por momentos de reflexão, de criação e finalização para que o produto surpreenda, modifique o consumo e crie um novo momento, transformando o HÁBITO em SURPRESA!
 
Nessa engrenagem, precisamos contar com o movimento pró-ativo do salão, do bom vendedor, com conhecimento de causa, do produto, da clientela, sendo um novo formador de um novo cenário para o comensal. Ser um formador de um novo hábito ou surpresa é um caminho saudável para o pessoal do salão, contribuindo com os cozinheiros e chefs na jornada diária e na trajetória desbravadora de novos tempos, de novos consumos e de novas surpresas.
 
Seremos esses “bandeirantes” da gastronomia, desbravadores e conquistadores de novos valores sensoriais, transformadores do consumo e embaixadores da gastronomia, com consciência no consumo, na produção, na criação e na comercialização.
 
Entreguemos nossas mãos e nossas mentes, ao sabor da criação, para que o criador seja surpreendente na criatura, e o consumidor fique encantado com sua nova escolha!
 
Avante e ao alto! Pensamento e atitude criativa é o que desejo a todos os companheiros de jornada e caminhantes nessa pela profissão chamada cozinheiro!