Perfeição, sensação ou sentimento?

Opinião - Arthur Coelho

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Dias incansáveis e buscas incessantes pela perfeição tem causado mudanças drásticas no mundo da culinária e da gastronomia. Da tecnologia ao aperfeiçoamento dos cozinheiros, impulsiona uma corrida maluca pela receita perfeita, pelo prato perfeito, pelo “ovo perfeito”, pelo bife, pela escultura, enfim, pela perfeição exagerada e estressante que desencadeou um total esquecimento das características marcantes da raça humana: OS SENTIMENTOS E AS SENSAÇÕES.
 
Esqueceram das memórias gustativas e afetivas, das reuniões fraternais em torno da mesa, do compartilhar do pão e do companheirismo das refeições irmanadas. Os domingos cheios de risadas e mesas fartas, das “tiazonas” e das “vovozonas” com suas macarronadas e seus bolos e tarecos para os cafés das tardes! 
 
Os cadernos de receitas e as colagens dos recortes das revistas e das embalagens de alimentos foram trocados pelo “clicar” de algumas teclas e deixar que o “Doutor Sabe Tudo” nos responda com a frieza de uma máquina sem nenhuma pessoalidade.
 
Não damos mais as risadas e os suspiros deliciosos dos doces em compotas, dos queijos de manteiga e de coalho assado, recobertos por genuínos “méis de engenho”, guardados em garrafas e potes antigos. Esquecemos até das talhas refrescantes das casas simples, porém cheias de maravilhosas lembranças e boas ações, com a repartição do pouco que se tem, alimentando como “O Milagre da Multiplicação!” todos aqueles que chegavam e ainda aqueles que não vieram.
 
Será, então, que a busca estressante, angustiante, quase descabida pela perfeição, pela criação de um novo prato continuará a prevalecer em nossas carreiras? Será que não é o momento de manter a competência e a habilidade dos cozinheiros e agregar a isso? Nesse sentido, o afeto, o carinho, a memória afetiva, familiar e fraternal, redesenhando uma nova modalidade de consumo, com mais respeito, amizades, tempo, descanso e boas prosas, elementos essenciais para resgatar os valores que têm desaparecidos do seio familiar e da sociedade.
 
Entendo que o mercado do trabalho é mais que tudo isso, porém acredito fortemente que podemos “HUMANIZAR” cada vez mais essas refeições e criar um novo cenário, que já é conhecido de todos, porém esquecido e guardado apenas nos escritos íntimos de cada um.
 
Diante disso, fica aqui um pedido pessoal de um “velho lobo do mar”, cozinheiro por convicção, por decisão e por escolha própria: FAÇA DO SEU DIA, UM DIA DE SENTIMENTOS E SENSAÇÕES INESQUECÍVEIS PARA QUEM CONSOME e, paralelamente, use a perfeição com mais flexibilidade, impregnando no alimento todo o seu conhecimento, no entanto, acima de tudo, o seu verdadeiro amor pela culinária e por todos que dela compartilham.
 
“SEJA MAIS HUMANO AO INVÉS DE SER PERFEITO”!
 
Até a próxima!!