Revisitando o passado

Opinião - Arthur Coelho

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Todos nós sabemos que tudo na vida é cíclico! A moda do vestuário, do palavreado, das séries de épocas, das “releituras” gastronômicas, dos modismos de consumo e, atualmente, podemos falar da reviravolta, que considero positiva, das preparações gastronômicas menos rebuscadas, preparações cheias de técnicas, porém revisitando os alimentos mais básicos.

Confesso minha felicidade publicamente, pois sempre fui um entusiasta desse tipo de preparação. É claro que as técnicas auxiliam nos resultados, mas nosso paladar foi construído com base em alimentos menos complexos, tanto nas suas estruturas, quanto no seu cultivo, na sua logística e em sua finalização para o consumidor.

Resgatar os sabores, os produtos, os produtores e os clássicos das preparações trazem uma satisfação emocional, cheia de lembrança afetiva, composta de histórias familiares, de produtores, de épocas, de festejos, de crenças e crendices. Essas sensações e resgates alegram não só aos estômagos, mas também unem as pessoas de forma mais afetuosa e menos complexa.

Como não se lembrar no “melhor cuscuz temperado” do mundo, daquele maravilhoso bolo de goma, de macaxeira cozida com queijo de coalho, da linguiça sertaneja, da buchada, da panelada ou mesmo daquele delicioso frango com quiabo preparado por nossas mães, tias e avós? Vejo com bastante entusiasmo esse momento, pois sou um cozinheiro clássico, apesar de ser um aficionado por tecnologias e inovações na cozinha, porém esses sabores clássicos me atraem e ao mesmo tempo me estimula a produzir uma receita com esses alimentos básicos, praticamente esquecidos dos cardápios comerciais.

Vejamos, por exemplo, alguns alimentos esquecidos: o quiabo, o maxixe, o jiló e tantos outros que estiveram longe de nossas cozinhas comerciais, retornam de forma triunfante, algumas vezes com uma nova roupagem, com técnicas sofisticadas, porém sem perder o sabor característico, sem máscaras, com sabores ressaltados, abrilhantando não somente como uma guarnição qualquer, mas sendo também protagonista do resultado final do sabor.

A torcida é que esse “movimento” que revisita o passado não seja meramente comercial ou de modinha, porém sim um movimento concreto, para que não percamos essa memória tão afetiva, de nossa agricultura, de nossa história de povo, de sabores, de cores e de aromas. A descoberta de sabores genuínos de outros biomas, com suas diversidades, fazendo parte de grandes composições de sabores e de apresentação.

Não falo apenas do resgate do alimento, mas também do resgate do gestual, preponderante e importante a fim de que não morra esse ou aquele modo de fazer, que permeou durante tantas gerações de cozinheiros e culinaristas.

Sigamos em frente nesse resgate, valorizando aquilo que realmente tem valor! Mostre, exponha, faça, escolha, converse, pesquise, utilize e troque ideias e valores dessa nossa “culinária raiz”, cheia de perfumes, sabores, risos e lágrimas desse nosso maravilhoso Brasil. Aproveito, aqui, esse momento para desejar um Natal maravilhoso para todos os queridos amigos e leitores!!